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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A Bolha


A Bolha foi uma banda de rock brasileira formada em 1965 no Rio de Janeiro, com o nome The Bubbles. Participou ativamente do circuito de bailes, programas de rádio e de TV que existia na capital carioca naquela época. No início tocavam apenas covers ou versões de canções e bandas de sucesso da Europa e dos Estados Unidos, mas, no início dos anos 70, passaram a compor canções próprias e chegaram a gravar dois álbuns, em 1973 e 1977. Encerraram as atividades em 1978, mas voltaram a ativa em 2004, chegando a gravar um novo álbum, para então pararem novamente.

Tocaram como banda de apoio para Gal Costa, Leno, Márcio Greyck, Raul Seixas e Erasmo Carlos. Seus integrantes deram origem ou integraram várias bandas que fariam sucesso na década de 1970 e na década seguinte como Bixo da Seda, Herva Doce, A Cor do Som, Roupa Nova e Hanói-Hanói.

Criada em 1965 pelos irmãos César e Renato Ladeira, filhos da atriz Renata Fronzi e do radialista César Ladeira, que tocavam guitarra solo e ritmo, respectivamente, juntamente com Ricardo no baixo e Ricardo Reis na bateria. A participação de Ricardo no baixo durou apenas algumas semanas devido a diferenças de visão sobre a banda. Lincoln Bittencourt foi recrutado para o baixo e, com essa formação, são convidados pela gravadora Musidisc a registrar um compacto simples com duas versões de músicas de sucesso: Não Vou Cortar o Cabelo, versão de "Break It All" da banda uruguaia Los Shakers, no lado A e Por Que Sou Tão Feio, versão do hit "Get Off Of My Cloud" dos Rolling Stones, no lado B. O convite se deu nos bastidores da gravação de um programa de TV e o compacto que se seguiu não fez muito sucesso devido a falta de divulgação por parte da gravadora e da banda.

Em 1968, são convidados por seu amigo Márcio Greyck para serem a banda de apoio na gravação de um álbum. O álbum é lançado em agosto de 1968 e abre portas para a banda, gerando o interesse da PolyGram em lançar um compacto com versões de duas canções dos Beatles extraídas do álbum branco, Ob-La-Di, Ob-La-Da e Honey Pie.3Esse compacto, assim como outros gravados entre 1966 e 1969 para as gravadoras Musidisc e PolyGram, não foi lançado na época, vindo a luz apenas em 2010 através de uma coletânea lançada no mercado europeu pela Groovie Records.

Ainda em 1968, César decide deixar a banda para se dedicar aos estudos, abandonando a carreira artística. Também Lincoln e, posteriormente, Ricardo deixariam a banda. Para o lugar deles, entram na banda Pedro Lima na guitarra solo, Arnaldo Brandão no baixo e Johnny na bateria. Com essa formação, o som da banda fica mais pesado, passeando por Cream, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Grand Funk Railroad e Black Sabbath mas, ainda assim, continuam como uma das grandes sensações do circuito de bailes de fim de semana carioca, chegando a tocar para mais de cinco mil pessoas.

César Ladeira, que havia deixado a banda em 1968, passou a estudar cinema e trabalhar junto com o avô, o diretor Adhemar Gonzaga, como assistente de direção. César, então, chama o The Bubbles para tocar no filme Salário Mínimo, de 1970. A banda participa com a canção de abertura do filme, dublando outra em uma cena e, ainda, com uma canção que toca numa boate em outra cena, todas de autoria do guitarrista Pedro Lima. Em 1970 ainda ocorreria mais uma mudança de formação: Johnny sai e dá lugar a Gustavo Schroeter na bateria.

Em 1970, foram convidados por Jards Macalé para acompanhar Gal Costa em um show que ela iria fazer na boate Sucata. O show tinha cenário de Hélio Oiticica, contava com a participação de um naipe de metais e de grandes músicos, como: Naná Vasconcelos, Márcio Montarroyos, Íon Muniz e Zé Carlos. A recepção de público e crítica para a banda foi excelente, sendo classificada, anos depois, como "inesperada" por Renato Ladeira.

Este sucesso renderia um convite para que Pedro, Arnaldo e Gustavo acompanhassem Gal em apresentações ao vivo e aparições na TV em Portugal, como o programa de Raúl Solnado gravado no teatro Monumental de Lisboa. Depois do programa, os três acompanharam Gal Costa até Londres para visitar Caetano Velloso e Gilberto Gil que estavam exilados e morando na capital inglesa. Ficaram uns dias na casa de um brasileiro que conheceram por lá, até se encontrarem todos de novo para participar do Festival da Ilha de Wight. Foram todos para assistir aos shows, mas, no acampamento do local, faziam jams acústicas que chamavam a atenção de todos a volta. Gustavo gravava tudo com um gravador de bolso e, um dia, Pedro pegou as fitas e mostrou para o pessoal da organização do festival. Todos foram convidados para tocar em um dos palcos alternativos ao principal, de forma acústica mesmo. Assistiram a The Who, The Doors, Sly and the Family Stone, Ten Years After (grupo de Alvin Lee), Chicago, Jethro Tull e Jimi Hendrix. Ainda passariam por Paris alguns dias depois e veriam Rolling Stones e Eric Clapton.

Após essa experiência na Europa, os três voltam para o Brasil e contam para Renato a decisão de seguir outro caminho, fazer música própria, em português, e parar de fazer covers e versões já que, segundo Gustavo, "não dava para fazer igual" a esses caras. Passam a compor e ensaiar um novo repertório, próprio, e mudam o nome para A Bolha. Emblemático foi um show que fizeram logo que voltaram do festival (no ginásio do clube Tamoios em Niterói ou no Clube Mauá em São Gonçalo), no qual tocaram apenas o repertório próprio e o público foi saindo no decorrer do show. A partir desse evento decidem fazer uma mudança mais paulatina, inserindo músicas próprias no repertório antigo.

O primeiro grande teste para o novo repertório foi a participação da banda no Festival de Verão de Guarapari, em fevereiro de 1971. A apresentação deles, assim como todo o festival, foi recheada de problemas. A mesa de som foi instalada atrás do palco, houve problemas com o governo militar da época e a banda experenciou problemas com os técnicos de som que desligavam o som toda vez que Renato Ladeira girava o microfone imitando o Roger Daltrey do Who.

Com a fama adquirida no show com Gal Costa e também no festival, são chamados por um produtor da CBS pra tocar no novo LP de Leno. Este produtor era ninguém menos do que Raul Seixas que trabalhava na gravadora nesta época. Eles foram a banda da gravação do álbum Vida e Obra de Johnny McCartney, que teve várias faixas censuradas pelo governo militar, acabando sendo lançado na época apenas um compacto duplo com 4 faixas. Apenas em 1995, Leno lançou o álbum como fora previsto na época.

Ainda em 1971, participam do VI Festival Internacional da Canção defendendo a música 18:30 de Eduardo Souto Neto e Geraldo Carneiro. Como era comum na época, era lançado um compacto com as músicas concorrentes no festival e a banda aproveitou e incluiu Sem Nada no lado A e ainda Os Hemadecons Cantavam em Coro Chôôôô no lado B. O compacto foi lançado pela gravadora Top Tape. Também participaram da gravação do compacto duplo de Gal Costa, Gal, em duas músicas: Zoilógico e Vapor Barato.

Após quase um ano sem tocar em lugar nenhum, em 1973 lançam seu primeiro álbum, Um Passo à Frente, pela gravadora Continental. O álbum traz músicas com um toque mais progressivo, chegando algumas a ter dez minutos de duração. O álbum não foi bem recebido pelo público, tendo vendagem pequena.

No ano seguinte, participam da gravação do primeiro compacto duplo de Raul Seixas com Não Pare na Pista, Trem das Sete, Como Vovó já Dizia e Se o Rádio Não Toca, tocando em Não Pare na Pista e Como Vovó já Dizia. Como as coisas esfriaram e ficaram meio fracas, Gustavo Schroeter foi para o Veludo e Arnaldo Brandão saiu da banda. Entram Serginho Herval, na bateria, e Roberto Ly, no baixo. Com esta formação, participam do festival Banana Progressiva, em 1975. Ainda em 1975, Renato Ladeira deixa a banda para tocar no Bixo da Seda e para o seu lugar é escolhido Marcelo Sussekind.

Em 1977 gravam o seu segundo disco, É Proibido Fumar cujo som marca uma volta ao rock clássico e ao hard rock, mais próximo do som da Jovem Guarda. Renato Ladeira participaria do disco apenas como compositor. A seguir realizam uma turnê abrindo para Erasmo Carlos sendo que, na sequência, tocavam como banda de apoio do artista. Esta turnê contou com a volta de Renato Ladeira nos teclados, tornando a banda um quinteto. Durante a turnê a banda grava o álbum novo de Erasmo, Pelas Esquinas de Ipanema, que sairia em julho de 1978. Logo após o fim da turnê, a banda encerra as suas atividades.

Vários componentes de A Bolha tocaram com músicos famosos da MPB, como Caetano Veloso e Raul Seixas. Além disso outros grupos surgiram a partir da desfragmentação, como A Cor do Som, Herva Doce, Outra Banda da Terra (que acompanhou Caetano Veloso), Roupa Nova e Hanói-Hanói, entre outros.

Em 2004, o diretor José Emílio Rondeau convidou Renato Ladeira para ser diretor artístico do seu novo filme, 1972. Renato mostrou algumas músicas que haviam sido censuradas no início dos anos 70 e o diretor se interessou, então ele chamou seus velhos companheiros de banda para gravarem aquelas músicas para o filme. Da reunião acabou surgindo a vontade de gravar um novo disco com aquele material e mais alguns covers, gerando o álbum É Só Curtir, de 2006, pela gravadora Som Livre. Apesar do lançamento do disco, a banda não chegou a sair em turnê.

Em 2010, saiu uma coletânea com todos os singles da banda no mercado europeu, tanto os dois lançados como outros que apenas foram gravados, The Bubbles - Raw and Unreleased, pela Groovie Records

Texto | Wikipédia

1973 | UM PASSO À FRENTE

01. Um Passo A Frente
02. Razão de Existir
03. Bye My Friend
04. Epitáfio (Epitaph)
05. Tempos Constantes
06. A Esfera
07. Neste Rock Forever
08. 18.30 - Parte I (Bonus)
09. Os Hemadecons Cantavam Em Coro (Bonus)

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1977 | É PROIBIDO FUMAR

01. Deixe Tudo de Lado
02. Difícil é Ser Fiel
03. É Proibido Fumar
04. Estações
05. Sai do Ar
06. Consideração
07. Torta de Maçã
08. Luzes da Cidade
09. Clímax
10. Vem Quente Que Eu Estou Fervendo
11. Talão de Cheques

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2006 | É SÓ CURTIR

01. É Só Curtir
02. Não Sei
03. Cinema Olimpia
04. Sem Nada
05. Sub Entendido
06. Não Pare na Pista
07. Matermatéria
08. Cecília
09. Você Me Acende (You Turn Me On)
10. Rosas
11. Desligaram os Meus Controles

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2010 | RAW AND UNRELEASED

01. Não Vou Cortar O Cabelo (Break It All-Stereo 66)
02. Porque Sou Tão Feio (Get Off My Cloud-Stereo 66)
03. Trabalhar (For Your Love-66)
04. Ob-La-Di, Ob-La-Da (68)
05. Honey Pie (68)
06. Get Out Of My Land (Salario Minimo Ost-69)
07. The Space Flying Horse And Me (Salario Minimo Ost-69)
08. Não Vou Cortar O Cabelo (Break It All-Mono 66)
09. Porque Sou Tão Feio (Get Out Of My Cloud-Mono 66)
10. Trabalhar (For Your Love-66)
11 - Sem Nada (A Bolha-71)
12. Os Hemadecons Cantavam Em Coro Chôôôô (A Bolha-71)

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2018 | AO VIVO 1971

01. Apresentação
02. Rosas - interrompida
03. Rosas - versão 2
04. Rosas - reprise
05. Sem Nada
06. Não Sei
07. Não Sei - reprise
08. Irmãos Alfa
09. Cecília
10. Matermatéria
11. Sub Entendido - versão 1
12. Sub Entendido - versão 2
13. Sub Entendido - reprise

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Bixo da Seda



Os anos 70 estavam começando. O sonho tinha acabado, os Beatles já não existiam mais. No outro lado do Atlântico, a "América" perdia seus três maiores ícones: Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Como no inicio da década passada, o rock se reciclava através das bandas inglesas. O estilo já tinha se consolidado como um movimento social, uma arma nas lutas da juventude.

Nesse contexto, mais precisamente no ano de 73, um guitarrista porto-alegrense chamado Zé Vicente Brizola (filho de quem você está pensando) tem a brilhante idéia de formar uma banda de rock, convidando seu amigo Mimi Lessa, considerado na época um dos melhores guitarristas do país. Mimi estava voltando do Rio onde fez sucesso com o Liverpool, banda em que também tocava seu irmão Marcos (baixo), e seu primo Edinho Espíndola (bateria). Os dois acabam por entrar no projeto, que tem sua formação "quase finalizada", com o ingresso de um experiente tecladista do cenário da capital: Cláudio Vera-Cruz.

Influenciados basicamente pelo rock progressivo de bandas como Yes, Pink Floyd, King Crimson, Jethro Tull e Focus, juntamente com o Rock`N Roll básico dos Rolling Stones, faltava ao quinteto um nome. E este surgiu da forma mais inusitada: enquanto enrolavam um baseado, pensam na utilidade daquele papelzinho quase transparente, a seda. Aqui surgia uma das maiores de rock do Rio Grande do Sul, o Bixo da Seda.

Sem contar com um "frontman", acabam por dividir os vocais entre os integrantes do grupo, fato que acabaria quando convidam mais um ex-Liverpool, o maluco beleza Fughetti Luz, para ingressar na banda. Fughetti era talvez, a melhor definição para o termo Hippie. Logo na sua infância teve uma paralisia infantil, que deixou seqüelas irreversíveis em suas pernas, fato que dava um ingrediente a mais as suas performances. No começo da década, com o fim do Liverpool, foge da repressão militar exilando-se no Velho Mundo, sem ao menos falar uma língua que não fosse o bom e velho português. Fica lá por pouco tempo, sendo "convidado a se retirar" pelas autoridades européias.

De formação nova o Bixo parte para o Rio, deixando no caminho Zé Vicente Brizola e Cláudio Vera-Cruz, sendo este último, substituído pelo ex-Bolha Renato Ladeira. No centro do país fazem diversos shows pelos festivais da época, dividem o palco com as grandes bandas dos anos 70, ganham o reconhecimento da mídia especializada e são contratados para gravar seu primeiro e único registro.

O LP Estação Elétrica, de 76, acaba por não mostrar o que era realmente o Bixo ao vivo. Toda energia que marcava o grupo no palco, não foi transmitida para o CD. Mesmo assim, contém grandes obras como Um Abraço em Brian Jones, em homenagem ao ex-Stones, as lindas baladas Vênus e Já Brilhou, e seu hino Bixo da Seda, com os famosos versos: Bixo, dá a seda, me deixa enrolar. A grande qualidade técnica dos músicos, as harmonias um tanto rebuscadas para uma banda de rock, e seus compassos totalmente fora dos padrões, características marcantes da banda, podem ser ouvidas em todas as músicas. Relançado no final do ano passado em CD, trata-se de um disco clássico do rock nacional.

A banda ainda durou mais três anos, até que Mimi, Marcos e Edinho entram para a banda de apoio das Frenéticas. Era o Fim do Bixo, o grande pilar Rock Gaúcho, referenciada por todas as gerações posteriores.

Hoje, os irmãos Mimi e Marcos vivem no centro país, participando de inúmeros projetos musicais. Edinho é um dos bateristas mais requisitados do Brasil, tocando atualmente na Fu Wang Foo. Fughetti "apadrinhou" na década de 80 diversas bandas, entre elas a Bandaliera, para qual compunha várias músicas, e o Taranatiriça. Lançou ainda dois discos solos e mora no interior do Estado.

Por: Iuri Daniel Barbosa

1976 | ESTAÇÃO ELÉTRICA

01. Vênus
02. Já Brilhou
03. É Como Teria Que Ser
03. Carroucel
04. Bixo da Seda
05. 7 de Ouro
06. Gigante
07. Um Abraço em Brian Jones
08. Trem

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sábado, 26 de janeiro de 2019

Rita Lee


No início de 1970, 0s Mutantes já traziam em sua bagagem três albuns e diversos sucessos. 0 stress já batera à porta e o grupo liderado por Rita Lee e pelos irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista estava em férias. Quinteto desde o último disco, A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (69), com a oficialização dos membros Liminha (baixo) e Dinho (bateria), os Mutantes aguardariam o vôo solo de Rita Lee. Estimulada pela diretoria da gravadora, notadamente pelo então presidente André Midani, Rita - que vinha fazendo diversos shows de moda, desfiles e happenings - acabou entrando em estúdio em São Paulo com seu marido e parceiro de banda, Arnaldo Baptista, que assumiria a direção musical, enquanto que Manoel Barenbein produziria o disco e Rogerio Duprat faria os arranjos. Os Mutantes so não estiveram inteiramente presentes neste primeiro álbum solo de Rita Lee porque o guitarrista Sérgio Dias não entendeu como bom para a banda que seus membros tivessem projetos paralelos. O lendário Lanny Gordin acabou fazendo os belos solos.

O repertório procurou afastar Rita dos Mutantes, trazendo diversas parcerias dela com Élcio Decário. Mas, casualmente, foi com a versão José, do original francês Joseph (de Georges Moustaki), curiosamente assinada por Nara Leão (que na épcoca morava em Paris e também versionou outras musicas), que este "Build Up" entrou para a história. Podendo ser considerado o disco #0 na carreira de Rita Lee, este trabalho foi logo seguido pelo projeto Tecnicolor dos Mutantes no final de 1970, arquivado em prol de Jardim Elétrico (71) - até ser enfim lançado pela Universal Music no ano 2000, exatos 30 anos após sua realização em Paris.

Quando os Mutantes desejaram gravar um segundo LP em 1972, após País dos Baurets, a notícia de que não poderiam (ou deveriam) fazer dois trabalhos num mesmo ano acabou levando a um "jeitinho brasileiro": Hoje é o Primeiro Dia do Resto da sua Vida acabou sendo creditado a Rita Lee, como se fosse seu segundo álbum solo. A cantora eventualmente saiu da banda no início de 1973, montando a dupla Cilibrinas do Éden com a amiga Lucia Turnbull por alguns meses e finalmente criando o grupo Tutti Frutti - que sobreviveu acompanhando Rita por cinco anos.

Tutti Frutti seria o terceiro (ou primeiro?) album solo de Rita Lee em 1973, mas o trabalho da banda não agradou a diretoria da gravadora que determinou seu arquivamento em função da idéia de que Rita gravasse um disco verdadeiramente solo para a Philips. Atrás do Porto Tem Uma Cidade acabou saindo em 1974, com o sucesso Mamãe Natureza final mente solidifiicando Rita Lee como artista solo alguns anos depois de seu primeiro trabalho individual. Tutti Frutti, o disco arquivado, chegou a ser resgatado e remasterizado para lançamento no ano 2000, para cair novamente no limbo

Texto retirado do blog | Brazilian Nuggets

1970 | BUILD UP

01. Sucesso, Aqui Vou Eu (Build Up)
02. Calma
03. Viagem ao Fundo de Mim
04. Precisamos de Irmãos
05. Macarrão com Linguiça e Pimentão
06. José (Joseph)
07. Hulla-Hulla
08. And I Love Her
09. Tempo Nublado
10. Prisioneira do Amor
11. Eu Vou Me Salvar

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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Spectrum


Um clássico psicodélico
Disco gravado em 1971 por uma obscura banda de Friburgo vira cult na Europa, onde colecionadores pagam até US$ 2 mil pelo LP


O que havia restado para o funcionário público aposentado José Luiz Caetano, 49 anos, era apenas uma fita cassete, que ele ouvia em suas viagens de carro pela serra. ''Chorava de alegria e tristeza. Sentia um arrepio ao ver a amplitude do trabalho que tínhamos feito. E tudo se perdera no vento, jogado em alguma prateleira'', diz José Luiz. Na tal fita estavam as músicas do disco Geração bendita, gravado em 1971 com sua banda Spectrum, formada por amigos beatlemaníacos de sua cidade, Nova Friburgo. Sem repercussão alguma em sua época, o trabalho acabou vingando só 30 anos depois, por vias tortíssimas: depois de virar raridade, cult mesmo entre colecionadores europeus, Geração bendita foi relançado em outubro de 2001 em caprichada edição de vinil, numa tiragem limitada, pelo selo alemão Psychedelic Music. Mais: quem quiser comprar um LP original de 1971, em bom estado, tem que desembolsar até US$ 2.000.

Saudado na Alemanha como uma pérola do rock psicodélico sul-americano, o disco relançado vendeu toda a tiragem de 410 cópias em uma semana (outras 40 tiveram que ser guardadas para os clientes da internet). Em abril, Geração ganhará sua primeira edição oficial em CD, também na Alemanha.

''O tempo ficou curto e a cabeça pequena'', diz José Luiz, que, com toda a satisfação, deixou a pacata vida de lado e hoje vive em meio a uma frenética troca de e-mails e telefonemas com representantes de selos fonográficos e colecionadores no exterior. Em 1998, ele estava completamente desanimado, depois de tentar promover uma reunião da banda, que rendeu apenas uma edição caseira do disco em CD. Tudo indicava que se perderiam na memória as músicas, feitas para a trilha sonora do inacreditável Geração bendita, anunciado como ''o primeiro filme hippie brasileiro'', feito em ''uma comunidade hippie autêntica''. Até que um dia o músico foi procurado pelo colecionador Luiz Antônio Torge, que mantém um site com capas de discos brasileiros raros, o Rato Laser.

Paulada - ''Há uns oito anos, um peruano que mora em Burbank, nos Estados Unidos, me enviou uma lista de discos brasileiros que procurava. No final da lista, havia um tal de Geração bendita, que ninguém conhecia'', diz Torge. Um amigo conseguiu então para ele a obscura bolacha psicodélica. ''Escutei e foi aquela paulada. Ele não perde para nenhum baita disco americano ou europeu do mesmo estilo.'' O colecionador só conseguiu chegar a José Luiz por intermédio do diretor do filme, Carlos Bini, o único nome completo na contracapa do disco original, que fora lançado pelo extinto selo Todamérica, especializado em cantores do rádio.

Logo a descoberta chegou a Thomas Hartlage, do Psychedelic Music, em uma fita enviada por Torge. ''Fiquei tão impressionado com o som e com as composições que passei um ano tentando comprar o LP original. Por fim, consegui uma cópia no Brasil, pela qual paguei US$ 1.500'', diz Hartlage. E a fama de Geração bendita se espalhou. ''Ele é uma jóia da música psicodélica'', elogia Hans Pokora, autor da série de livros Record collector dreams, que compila capas de raridades roqueiras do mundo inteiro. ''Além de ser ótimo, ele é raro também, o que torna a obra ainda mais cultuada'', acrescenta Luiz Antônio Torge. ''E o fato de as músicas não serem covers de bandas da Europa ou Estados Unidos deixa os colecionadores loucos.''

Ouvir os poucos mais de 29 minutos do Geração surpreende qualquer roqueiro, até o mais experimentado. Apesar do som precário (os instrumentos eram de terceira mão e as novas cópias do disco tiveram que ser tiradas de um LP, já que as fitas master desapareceram), trata-se de um excelente disco de rock, com ecos do psicodelismo de Jimi Hendrix, o peso de Cream e Steppenwolf (a grande paixão da banda) e das impecáveis harmonias vocais de Simon & Garfunkel e The Mamas & The Papas. As guitarras falam alto em faixas como Quiabos (nome do sítio onde vivia a comunidade hippie do filme), Pingo é letra e Trilha antiga.

Viola e guitarra - Há também belas baladas, só com as vozes dos integrantes e o acompanhamento de uma viola caipira (substituindo o violão de 12 cordas, inacessível para os garotos), que José Luiz Caetano comprou em 1970 e guarda até hoje. Entre elas, Mary you are, Tema de amor, Mother nature e Maria imaculada. A faixa mais psicodélica mesmo é Concerto do pântano, com a combinação da viola com slide e guitarra com efeito wah-wah. O hino hippie A paz, o amor, você encerra o disco em grande estilo - nada a dever, por exemplo, aos Mutantes de Jardim elétrico.

Produzido por Carl Kohler, dono do Quiabos, o filme Geração bendita era a grande oportunidade que o Spectrum tinha de entrar na mídia. ''Uma história nunca vista no Brasil! Uma geração simples, divertida, humana, bela e inteligente! Você vai fundir a cuca, bicho!'', anunciava o trailer do filme, que originalmente seria um documentário, mas acabou virando ficção com a entrada no projeto do diretor Carlos Bini. ''O filme não é nenhuma obra-prima, mas retrata uma época'', diz hoje José Luiz Caetano. Bondade dele: Geração bendita poderia ser exibido hoje em dia como uma curiosidade trash, com cenas de hippies queimando um aparelho de TV, tocando flauta à beira do rio, queimando fumo e destroçando com fúria um leitão assado.

Com interpretações constrangedoras e um fiapo de roteiro, centrado na história de um burocrata que larga tudo para viver com os hippies que acampam na praça principal de Nova Friburgo, Geração bendita, o filme, tem uma cena antológica, em que todos tomam banho nus num rio, no qual um treslocado vai derramando um balde de tinta para colorir a água. ''Alguns dizem que a minha bunda está ali, mas eu não me vejo'', brinca José Luiz, que jura não ter ido fundo na onda daquela época. ''Minha droga era a música'', assegura.

Big Boy - Proibido a princípio pela Censura, Geração bendita acabou sendo lançado só em 1972, e em poucos cinemas, com o título de É isso aí, bicho!. E nada aconteceu. Frustrados e sem empresário, os músicos do Spectrum se separaram - isso, apesar de terem recebido elogios e uma convocação de um de seus ídolos, o radialista Big Boy, do Baile da pesada. Com nova formação, chegaram a tentar a sorte em boates de Ipanema, numa onda meio Cream. Mais tarde, com a adesão do vocalista (já falecido) Wirley, embarcaram numa onda Led Zeppelin. Nessa, gravaram a trilha de outro filme de Bini, Guru das 7 cidades. Depois acabaram mais uma vez, só que definitivamente.

Com o fim do sonho roqueiro, José Luiz se casou, foi trabalhar como professor de shiatsu e teve dois filhos. Mais tarde, um concurso o levou a ser funcionário público. No meio tempo, cursou dois anos de Direito, que o ajudaram bastante na hora de se meter no complicado trâmite legal para a liberação dos direitos do disco, quando do convite da Psychedelic Music para o relançamento. Foi uma longa peregrinação que envolveu todos os músicos de Geração bendita ainda vivos: o baterista Fernando (que trabalha com informática no Rio) e os guitarristas Sérgio (desenhista da construção civil em Friburgo) e David (pecuarista em Bom Jardim). O baixista do disco, Toby, morreu no começo dos anos 90 num acidente de carro.

''O Geração ainda é um disco atual, em letra e música'', acredita José Luiz, que montou um site do Spectrum e trabalha agora pelo seu relançamento em CD no Brasil. Ele sonha inclusive fazer um videoclipe, com cenas do Geração que estão em poder de Carl Kohler, hoje recluso e desiludido com o meio cinematográfico. Trinta anos depois, o músico continua no clima paz-e-amor do filme - em sua opinião, o sonho não acabou e os anos 70 sequer começaram. ''O objetivo final do homem tem que ser o humanismo'', prega José Luiz.

Jornal do Brasil | 14 de Fevereiro de 2002
por Silvio Essinger

1971 | GERAÇÃO BENDITA

01. Quiabo's
02. Mother Nature
03. Trilha Antiga
04. Mary You Are
05. Maria Imaculada
06. Concerto do Pântano
07. Pingo é Letra
08. 15 Years Old
09. Tema de Amor
10. Thank You My God
11. On My Mind
12. A Paz, Amor, Você

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terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Loyce e Os Gnomos


Tudo relacionado a este misterioso combo do interior de São Paulo é nebuloso, já que o grupo sumir completamente da cena musical depois deste compacto duplo lançado em 1969 pelo pequeno selo Do Ré Mi. Alguns dizem que a banda surgiu em Ribeirão Preto, mas na realidade, eles vieram de Limeira, onde praticavam uma sonoridade totalmente em sintonia com o rock psicodélico e de garagem norte-americano, mas com uma peculiar pegada tropicalista.

Em 1969 não havia nada aqui tão pesado e brasileiro como “Era uma nota de 50 cruzeiros”. A tosca e poderosa distorção da guitarra do jovem Fael deixaria Tony Iommi e Ron Asheton mortos de inveja. Num certo momento, o tema se torna uma fusão de microfonia e percussão violenta. Talvez o maior nugget garageiro da América do Sul. “José João, ou João José” vai no caminho oposto, pois é uma balada folk com voz ingênua. Aliás, essa era o tema que o grupo apostava para estourar nas rádios, tanto que a canção foi mencionada com destaque na contracapa, que incluía também um agradecimento especial a Tom Zé. Em “Que é Isso?”, a guitarra fulminante de Fael volta com ímpeto no estilo Hendrix. “A jardineira Querida, ou coletivo” marca o fim da orgia psicodélica com um Hammond charmosamente desafinado.

O fato de contar, também, com uma capa de dez polegadas, deixou “O Despertar dos Mágicos” ainda mais colecionável, pois é pouco usual uma banda lançar um compacto de sete polegadas dentro de uma capa de dez polegadas.

Texto retirado do livro | Lindo Sonho Delirante

1969 | O DESPERTAR DOS MÁGICOS

01. Era Uma Nota de 50 Cruzeiros
02. José João ou João José
03. Que é Isso?
04. A Jardelina Querida ou Coletivo





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domingo, 20 de janeiro de 2019

Perfume Azul do Sol


Grupo paulista formado por Ana (voz e piano), Benvindo (voz e violão), Jean(voz e guitarra) e Gil (bateria e vocal). Com visual hippie e psicodelia derivada de ritmos e instrumental regionais, gravaram um único álbum - Nascimento -, pelo selo Chantecler, em 1974. O baixista Pedrão, depois integrou o Som Nosso de Cada Dia, ao lado do ex-Íncríveis, Manito.

Perfume Azul do Sol é uma das muitas bandas de rock psicodélico setentonas que pouquíssima gente conhece. Nascimento, de 1974, é ao mesmo tempo sua obra prima e único disco. As dez faixas, algumas na voz e piano de Ana, violão do Benvindo, Jean na guitarra e Gil na bateria, tinham como temática a psicodelia, mas não abriam mão de uma mistura com instrumentos e estilos de música regional, como pode ser ouvido na faixa Abraço do Baião e também em Equilíbrio Total, tendo essa última todas as características do que foi chamado de "rock rural" na época em questão.

Um dos lugares comuns em algumas faixas do disco é o conhecido pedal Fuzzbox, que para bom ouvinte, nunca falta nas bandas da década, sejam estrangeiras ou nacionais, e também harpejos e pequenos solos de guitarra.

As letras das músicas são simples, mas ao mesmo tempo profundas por conta da subjetividade dos símbolos, dando assim um ar de misticismo, tanto as letras como no som. A faixa que melhor expressa tal ideia é Canto Fundo, com seu baixo forte e longa introdução, nos conta uma estória marítima que podia muito bem ser contada por um pirata, tema também recorrente em outras bandas da época, a exemplo "O Pirata" da Ave Sangria e o álbum Pirata de 1979 da banda A Barca do Sol.

Fechando o disco tem a faixa A Ceia, que é possivelmente a descrição falada de um quadro famoso. A música tem duas atmosferas, a primeira bucólica, remete a tempos antigos com a ajuda da flauta e pouca percussão. Na segunda roncam guitarras em solos curtos, o baixo troveja e a bateria vai trotando até o fim da faixa.

Apesar dos pontos comuns, todas as bandas acrescentaram um pouco na história da psicodelia brasileira, e de maneira alguma a repetição de temas ou mesmo no que diz respeito a técnica e jeito de tocar, diminuem a qualidade do que foi criado. As semelhanças no mínimo contribuíram para marcar uma época fértil e lúdica musicalmente falando.

Bandas sententonas com Pontos comuns: Impacto Cinco, Pão com Manteiga, Os Lobos, Os Brazões, Som Imaginário, Rubinho e Mauro Asumpção, Liverpool, Módulo 1000, Som Nosso de Cada Dia e muitas outras se você queria ter vivido naquela época e seguir os pedaços de pão que elas deixaram pelo caminho.

Texto | Musiqualização

1974 | NASCIMENTO

01. 20.000 Raios de Sol
02. Sopro
03. Calça Velha
04. Deusa Sombria
05. O Abraço Do Baião
06. Equilíbrio Total
07. Nascimento
08. Pé De Ingazeira
09. Canto Fundo
10. A Ceia

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sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Brazilian Octopus

A multinacional Rhodia, indústria pioneira na fabricação de fibras sintéticas para vestuário, através de seus executivos decidiu formar um supergrupo musical que se responsabilizasse pela sonorização dos desfiles que a empresa promoveria, com exibição televisiva em horário nobre.

Livio Rangan, nascido em Trieste, que chegou ao Brasil em 1953, era jornalista de profissão, começou na publicidade ao pedir o patrocínio da Rhodia para um espetáculo de balé, e foi contratado para dirigir o departamento de marketing da companhia, foi o responsável por recrutar os músicos para o evento, os escolhidos eram de orientações tão diversas, como o bruxo dos mil instrumentos Hermeto Pascoal (flauta), o pós-tropicalista Lanny Gordin (guitarra), o bossanovista Cido Bianchi (piano), Olmir ”Alemão” Stocker (violão e guitarra), Nilson da Matta (contrabaixista de jazz), contando ainda Douglas de Oliveira (bateria), João Carlos Pegoraro (vibrafone) e, Carlos Alberto de Alcântara Pereira (sax e flauta).

A missão do grupo O Brazilian Octopus era executar ao vivo a trilha sonora do Momento 68, o mais ambicioso dos espetáculos institucionais da Rhodia produzidos até então no país, que pretendia associar a Rhodia com o futuro que já havia chegado. Com direção musical do maestro Rogério Duprat e direção cênica de Ademar Guerra, esse show-desfile tinha os atores Raul Cortês e Walmor Chagas encabeçando o elenco, ao lado dos cantores Gilberto Gil, Caetano Veloso, Eliana Pitman e do bailarino Lennie Dale. Os textos eram assinados por Millôr Fernandes. "Eu me fantasiei de leão várias vezes naqueles desfiles da Rhodia. O grupo todo se vestia de bicho e tocava dentro de uma jaula", lembra Hermeto.

“A única vez que a Rhodia tem algum tipo de dificuldade com relação à ditadura foi no desfile Momento 68, no qual vários elementos que compuseram a temática do desfile eram inspirados nos movimentos da cultura jovem internacional, em pleno momento de engajamento e questionamento dos valores tradicionais. Dessa maneira, o governo os considerava como ‘subversivos’. O desfile não chegou a ser censurado propriamente, mas foi vigiado com mais atenção.” (Gal Costa)

Esse encontro inusitado aconteceu mesmo, mais exatamente em 1968. O grupo só existiu durante um ano e deixou apenas um álbum como registro de sua passagem pelo cenário musical - intitulado Brazilian Octopus, e marca um capítulo pouco conhecido da história da nossa música instrumental.

"Sem dúvida, o grupo mais estranho surgido na música brasileira", comenta Marcelo Dolabela, em seu dicionário ABZ do Rock Brasileiro (ed. Estrela do Sul, 1987).

Com músicos tão versáteis, não foi tarefa difícil. A gravação do álbum aconteceu a partir dos encontros e ensaios dos oito integrantes. O LP foi lançado pela Fermata em 1969, trazendo 12 temas instrumentais, com vários destaques.

Texto retirado do blog | Harmonia Sangreal

1969 | BRAZILIAN OCTOPUS

01. Gamboa
02. Rhodosando
03. Canção Latina
04. Pavane
05. As Borboletas
06. Momento B/8
07. Summerhill
08. Gosto De Ser Como Sou
09. Chayê
10. Canção De Fim De Tarde
11. O Pássaro
12. Casa Forte

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Leno


“Vida e Obra de Johnny McCartney” é considerado o CD mais importante da carreira solo de Leno, e foi gravado em fitas, entre novembro de 1970 e janeiro de 1971. Foi um momento em que ele deixa de lado, a questão das baladas tão presentes na Jovem Guarda, e mostra-se como um artista independente, vanguardista, crítico, rebelde, um ser politizado. Nessa época, ele fazia sucesso com a balada romântica “Festa de 15 anos” e resolveu dar uma guinada. “Eu sempre fui roqueiro, mas sempre estourava com músicas lentas. Eu queria mostrar o meu lado mais rock’n’roll”, revela. Tendo sido vetada pela Ditadura Militar em 1971, a obra que teve os Beatles, mais precisamente a dupla Lennon & McCartney, como inspiração para o compositor, ficou perdida durante 25 anos! O projeto criado em parceria com Raul Seixas reaparece em 1995, para a grande surpresa de Leno, que dava as fitas de seu inédito “Vida e Obra de Johnny McCartney” por perdidas! Acontece que elas são descobertas por acaso nos arquivos da Sony Music! Leno, então, decide remasterizar a gravação e editá-la em CD, criando seu próprio selo, o Natal Records, e lança sua obra composta em parceria com Raulzito.

Leno passou o ano de 1979 morando em Los Angeles, nos Estados Unidos, mas quase não compunha, pois estava ligado mais em cantar e tocar e quando voltou a residir em Natal, começou a se dedicar a compor e realizar shows. Guardava para si a lembrança de Raul Seixas, um cara simples que gostava de música. “Gosto muito da lembrança dele em mim, apesar das distâncias”. Essas lembranças ficam mais evidenciadas e tomam conta da vida de Leno quando este apresenta ao público o relançamento do disco “Vida e Obra de Johnny McCartney”, álbum considerado pela crítica especializada internacional como um dos melhores do rock. Foi o terceiro disco de sua carreira solo e teria sido gravado em 1970, porém a gravadora CBS vetou o projeto por achar que ele não era comercial. “Tinha umas músicas censuradas, como ‘Sr. Imposto de Renda’ e ‘Sentado no Arco-íris’. Segundo Leno, este disco antecipou muita coisa que viria a acontecer apenas nos anos 80 em termos musicais, além de ter influenciado a carreira de Raul Seixas.

Das 13 músicas do disco, seis são em parceria com o baiano. Leno comenta que “talvez a partir daí Raul tenha criado a vontade de ser cantor, pois ele não era muito a fim. Foi um laboratório para ele”.

O verdadeiro Rock já se faz presente logo na primeira faixa, “Johnny McCartney”, que é uma sátira à busca da fama tão em voga hoje em dia: “Ainda hei de ser famoso um dia / Meu nome nos jornais você vai ler / Vou ganhar mais de um milhão / Comprar o meu carrão cantando na TV / Vai pagar pra me ver no cinema / Do que me fez, irá se arrepender / Daqui pra frente sou galã lhe ofuscando / Com meu terno de lamê / Johnny McCartney vou ser).

É uma letra bem atual! Por tudo isso, “Vida e Obra de Johnny MacCartney” é considerado um disco seminal para o rock brasileiro, pós-Jovem Guarda, e deve constar em qualquer discoteca básica do estilo, onde guitarras, bateria e baixo ganham mais expressão, pela primeira vez, no rock brasileiro.

Por | Lúcia M. Zanetti

1995 | VIDA E OBRA DE JOHNNY McCARTNEY (1971)

1. Johnny McCartney
2. Por Que Não?
3. Lady Baby
4. Sentado no Arco-íris
5. Pobre do Rei
6. Peguei uma Apollo
7. Sr. Imposto de Renda
8. Não Há Lei em Grilo City
9. Convite para Ângela
10. Deixo o Tempo Me Levar
11. Contatos Urbanos
12. Bis
13. Johnny McCartney

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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Os Lobos


Os Lobos é uma banda de rock formada por Dalto e Cristina (voz), Ronaldo (guitarra), Cássio (guitarra), Fábio (teclados), Francisco (baixo) e Cláudio (bateria) na cidade de Niterói (RJ) no início da década de 1970. Faziam um rock psicodélico nos moldes dos Mutantes, chegando a lançar alguns discos pelo selo Top Tape. Posteriormente Dalto segui carreira solo, conseguindo emplacar alguns hits como "Flashback" e "Muito estranho".

Banda emblemática dos anos 60/70, com seu som que mescla o acústico e o elétrico, com harmonias bem elaboradas unidas a melodias marcantes e a ritmos como o Charleston, o Rithim and Blues e o Rock, Os Lobos emplacaram vários hits como “Fanny”, “Santa Teresa”, “O Homem de Neanderthal”, “Let Me Sing, Let Me Sing” entre outros.

Participaram de grandes eventos como o VII Festival Internacional da Canção, Som Livre Exportação, ao lado de nomes como Raul Seixas, Elis Regina, Ivan Lins, além de trilhas de novelas e do cinema. Em 2010, a música “Miragem”, título do 1º LP da banda, foi incluída na trilha sonora do filme “1972”, de José Emílio Rondeau e Ana Maria Bahiana e que esteve em cartaz em salas do Rio e São Paulo.

No ano de 2013, Os Lobos tiveram sua obra lançada em coletânea pela gravadora Discobertas do produtor Marcelo Fróes e sua biografia em livro do jornalista Nélio Rodrigues, em evento no Teatro Municipal de Niterói no dia 6 de Setembro.

Da formação original estão o seu fundador, o guitarrista Cássio Tucunduva e o cantor Antonio Quintella.

Textos | Brazilian Nuggets, FB/bandaoslobos

1971 | MIRAGEM

01. Seu Lobo
02. O Homem de Neanderthall
03. Avenida Central
04. Meu Amor Por Cristina
05. You
06. Miragem
07. Santa Teresa
08. Dorotéia
09. Carro Branco
10. Pasta Dental Sabor Chicletes

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SINGLES

01. Cristina
02. Só Vejo Você
03. Cabine Classe A
04. Fanny





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sábado, 12 de janeiro de 2019

Pão com Manteiga


Banda paulista de rock psicodélico formada em 1976.

Infelizmente a banda lançou apenas um álbum. Um disco homônimo com um tema interessante, estilo medieval. O disco é conceitual e aborda o mundo fantasioso de Avalon e faz criticas a sociedade moderna.

Uma musicalidade muito agradável e com músicos competentes o Pão com Manteiga não recebeu a devida atenção do publico.

INTEGRANTES:

Johnny - vocal e guitarra
Edison - bateria e efeitos
Paulo Som - viola, violão e vocal
Pierre - baixo e vocal
Gilberto - teclados e banjo

1976 | PÃO COM MANTEIGA

01. Mister Drá
02. Merlin
03. Flor Felicidade
04. Micróbio do Universo
05. Montanha Púrpura
06. Multi-Átomos
07. Serzinho Sem Medo
08. Cavaleiro Lancelot
09. História do Futuro
10. A Feiticeira
11. Fugindo do Planeta
12. Virgem de Andrômeda

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quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Milton Nascimento (com Som Imaginário)


Quarto LP do grande cantor Milton Nascimento, gravado em 1970 com participação do grupo psicodélico Som Imaginário, com uma sonoridade muito mais visceral e experimental que seus 2 primeiros álbuns mais voltados ao samba jazz.

Nascida de um projeto para acompanhar o cantor Milton Nascimento no show “Milton Nascimento, ah, e o Som Imaginário”, a banda contou com a participação dos músicos Zé Rodrix (vocal, órgão, flautas e percussão), Wagner Tiso (piano e órgão), Tavito (violão e guitarra), Luiz Alves (baixo), Robertinho Silva (bateria) e Frederyko (guitarra) – atualmente conhecido como Fredera, além da participação especial do percussionista mundialmente conhecidoNaná Vasconcelos, que substituiu Laudir de Oliveira que foi tocar com a banda americana Chicago.

O disco começa com a clássica Para Lennon & McCartney, letra critica dos irmãos Borges (Lô e Márcio) com uma sonzera pesada com guitarra fuzz e pegada suingada.

Depois cai na calmaria folk de Amigo, amiga,cheia de efeitos de percurssão do Naná, passa pela latinidade em Maria 3 filhos (com levada torta) e Canto Latino e volta ao folk em Clube da Esquina (outra do Lô).

Durango Kid uma bela música de Toninho Horta com uma pegada soul do Som Imaginário é mais um ponto alto do play. Pai grande é a mais experimental, abusa de efeitos que remetem a África e Alunar é outra letra bela e surrealista do então garoto Lô Borges, o instrumental também é tão psicodélico quanto a letra.

O disco encerra com uma releitura de A Felicidade de Tom e Vinicius e nas 4 faixas bônus, alguns temas com levada de samba jazz que saíram em trilhas sonoras da época.

Texto retirado do blog | Woodstock Sound

1970 | MILTON

01. Para Lennon e McCartney
02. Amigo, Amiga
03. Maria Três Filhos
04. Clube da Esquina
05. Canto Latino
06. Durango Kid
07. Pai Grande
08. Alunar
09. A Felicidade
Faixas Bônus
10. Tema de Tostão
11. O Homem da Sucursal
12. Aqui é o País do Futebol
13. O Jogo

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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Blow-Up

A banda Blow-Up nasceu na cidade de Santos, no bairro do Macuco, com o nome de The Black Cats. Era formado por amigos de escola, tendo Robson (guitarra), Hélio (bateria), Tivo (baixo e vocal), Zé Luis (vocal), Nelson (teclado e Adalberto (guitarra base).

O som dos rapazes se caracterizava na reprodução fiel de versões dos discos que tinham acesso, oriundos do exterior, por meio do Porto de Santos. Seguindo o movimento Jovem Guarda, começaram a tocar em bares e clubes da região.

A fama logo se espalhou, levando o grupo a se apresentar no programa de Hugo Santana, na extinta TV Excelsior, chamado “Almoço Musicado”. Nesse meio tempo, conheceram o compositor mineiro Zegê, que mais tarde adotaria o nome de Zé Geraldo, que os convidava para acompanha-lo em seus shows. O resultado dessa parceria foi à gravação de dois discos compactos, pela gravadora Mocambo.

Três anos depois, por já existir outra banda Black Cats, inclusive com registro, o grupo foi obrigado a trocar de nome, passando a se chamar Blow-Up, baseado no filme homônimo do cineasta italiano Antonioni.

Em 1969, assinaram contrato com a gravadora Caravelle e gravam o seu primeiro álbum Long Playing – Lp. O disco era composto por uma boa seleção de canções cantadas em português e com versões em inglês, tais como Time of the seasons, do The Zombies, Let me do, de Paul Revere e The Raiders, My Special Angel, do Vogues, entre outras preciosidades.

No ano seguinte, foram convidados para participar do filme “Se Meu Dólar Falasse”, estrelado por Grande Otelo e Dercy Gonçalves. O segundo álbum só foi lançado em 1971, também pela gravadora Caravelle. Apesar de não ter um título específico, o disco também ficou conhecido por “Expresso 21”. Diferente do anterior, esse álbum era composto por composições em português e apresentava mudanças na formação original, onde Lobão assume o vocal, em substituição a Zé Luis.

Atualmente os dois álbuns integram a lista de mais procurados por colecionadores, inclusive internacionais, sendo que o segundo álbum, teve a sua capa publicada no livro “1001 Record Collector Dreams”, do pesquisador austríaco Hans Pokora.

Em 1972, ainda pela gravadora Caravelle, a banda Blow Up lança um disco compacto simples, denominado “Quem Manda Nesse Mundo é o Dinheiro”. O sucesso comercial veio quatro anos depois, quando a banda assina contrato com a gravadora Philips. A canção Rainbow, lançada em disco compacto pela nova gravadora, alcança as paradas de sucesso, entra na trilha sonora da novela “Anjo Mau”, da Rede Globo de Televisão e em virtude disso, conseguem obter a primeira colocação no programa musical “Globo de Ouro”. A faixa também é apresentada especialmente no programa “Fantástico”, todos da mesma emissora.

Ainda em 1976, ganhariam o prêmio de melhor banda de São Paulo, segundo a imprensa especializada, entregue no ginásio do Clube Atlético Juventus. Em 1977, a banda entraria em estúdio para gravar mais um compacto simples, denominado Pamela Poon Tang. Essa faixa fez parte da compilação da série “Sua Paz Mundial - Volume 4”.

Texto retirado do blog | La Playa Music Oldies

1969 | BLOW-UP

01. Estrela Que Cai (Good Morning Sunshine)
02. My Special Angel
03. Você Não Sabe Amar (The Grafsman)
04. Ela Foi Embora
05. Hush A Bye
06. Cada Dia (Everyday With You Girl)
07. Deixe-Me (Let Me)
08. Feliz Sem Ter Você
09. Os Sonhos Meus
10. Prá Ter Seu Carinho
11. Time Of The Season
12. Eu Não Sei (Don't Say Why)

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domingo, 6 de janeiro de 2019

Antonio Adolfo & A Brazuca


O disco Antonio Adolfo & A Brazuca de 1971 marcou várias mudanças na banda. Pelo astral hippie da capa, já dá para perceber que o mergulho no soul e no rock foi total. Julie deixou a banda e foi substituída por um vocalista, Luiz Keller. E uma história curiosa: Vitor Manga deixara o grupo para excursionar com Wilson Simonal no México, um ano antes. Seus problemas com drogas acabaram fazendo com que o cantor de "Sá Marina" o despedisse - e ele, desgostoso, acabou morrendo de overdose.

A tristeza com a partida de Vitor acabou gerando a carregadíssima balada "Tributo a Vitor Manga", literalmente chorada e berrada por Keller. Uma curiosidade: Vitor era sobrinho do homem-de-televisão Carlos Manga, que após a morte do músico, decidiu se vingar procurando Wilson Simonal durante meses, munido de um revólver - fato que foi revelado pelo próprio Carlos Manga, numa entrevista à Playboy, já nos anos 90. Vários amigos em comum acabaram impedindo que o encontro entre os dois acontecesse.

Mais surpresas podem ser encontradas em músicas como "Panorama" (inspiradíssima em Marcos Valle), "Pela cidade", no clima samba-jazzy "Cláudia", na psicodelia de "Atenção! Atenção!", no progressivismo de "Transamazônica" e no soul pesado e hippie de "Que se dane". A primazia da parceria Antonio & Tibério é substituída por várias composições da dupla Luiz Cláudio Ramos/Mariozinho Rocha e por músicas creditadas à Brazuca. Após os dois discos gravados ao lado do grupo, Antonio lançaria mais um pela Philips, em 1972, e depois passaria a se dedicar à produção independente, gravando e distribuindo seus discos por conta própria, a partir do pioneiro selo Artezanal.

Tibério iniciaria uma parceria com o cantor e compositor Guilherme Lamounier - que geraria um disco solo de Guilherme pela Continental em 1973 e o sucesso "Cabeça feita", gravado pela banda carioca O Peso - e recentemente lançou um CD solo. E mesmo não aparecendo tanto na mídia, a usina de criações da dupla já chamou a atenção até de pessoas improváveis - pode perguntar ao punk Jello Biafra, que já andou citando Antonio Adolfo em entrevistas.

Texto retirado do blog | Sons Que Curto

1971 | ANTONIO ADOLFO E A BRAZUCA

01. Panorama
02. Cláudia
03. Tributo a Victor Manga
04. Pela cidade
05. Grilopus nº 1 (1ª parte)
06. Que se dane
07. Atenção, Atenção!
08. Cotidiano
09. Transamazônica
10. Cortando caminho
11. Grilopus nº 1 (2ª parte)
12. Caminhada

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sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Módulo 1000


O jornal Rolling Stone, em sua edição nacional, de número 4 (21 de janeiro de 1972) trazia na segunda capa (interna) anúncio de página inteira com o disco. Está lá escrito: "Nosso som é o som do mundo para ser sacado e curtido" - Módulo 1000, com a foto do quarteto e a capa do disco, trazendo apenas o nome da banda e da obra - "Não Fale Com Paredes". Uma estréia que prometia, mas que enfrentou resistências, mesmo dos setores mais roqueiros da mídia, inclusive do próprio RS.

A razão da reação adversa de alguns é, ao mesmo tempo, o grande trunfo do álbum: o som progressivo, altamente técnico, que, ao contrário das críticas, não deixava de manter o pé no rock e da psicodelia. Integravam o grupo carioca, os músicos Luiz Paulo (órgão, piano e vocal), Eduardo (baixo), Daniel (guitarra) e Candinho (bateria). A produção, devidamente capitalizada no anúncio do jornal, é do disc-jockey Ademir, um dos mais destacados da época, depois de Big Boy.

De fato, em suas nove músicas, "Não Fale Com Paredes" é um exercício de criatividade instrumental que, hoje, pode-se nivelar aos melhores discos do gênero produzidos no exterior. "Turpe Est Sine Crine Caput", cantada em latin, com um impressionante trabalho de guitarra, abre o disco mostrando o que vem pela frente. "Não Fale Com Paredes", com letra de Vitor Martins ("Uma pessoa/É uma figura/É uma imagem/Numa moldura/Minha imagem quer sair do quadro/Dessa vitrine sem profundidade"), em clima de quase hard-rock à la Grand Funk Railroad, expõe a face mais pesada do grupo. E "Espelho" é uma viagem acústica, com vocais suaves, que lembra um pouco a sonoridade dos Mutantes.

Um aviso na capa do lp reflete a preocupação do grupo com a qualidade de produção: "o tempo de duração de cada face do disco foi limitado a 16 minutos para proporcionar uma excelente reprodução sonora". Objetivo alcançado, pois ainda hoje causa supresa aos novos ouvintes o resultado final do disco, gravado com as conhecidas condições técnicas nacionais de trinta anos atrás. E por jovens que tinham idade média de 20 anos.

"Não Fale Com Paredes" também é assíduo frequentador dos "want lists" (procurados) de colecionadores internacionais de discos raros de psicodelia e progressivo. Sua capa (em detalhe) está no livro "2000 Record Collector Dream", do austríaco Hans Pokora, e uma de suas músicas - "Lem-Ed-Êcalg (Glacê de Mel, ao contrário) integra a coletânea "Love, Peace & Poetry - Latin American Psychedelic Music", ao lado do também brasileiro Som Imaginário.

Mesmo assim, a sina de "Não Fale Com Paredes" parece ser parmanecer no anonimato. Tanto que já é candidato a transformar-se em "disco perdido" também na era digital. Remasterizado, com capa original de papel e encarte com as letras, ganhou versão em cd, sem que ninguém tenha se dado conta. Originalmente gravado pela Top Tape, a reedição caprichada, limitada e provavelmente esgotada é da Zaher Zein/Projeto Luz Eterna.

Texto de Fernando Rosa, originalmente publicado na revista ShowBizz.

1970 | NÃO FALE COM PAREDES

01. Turpe Est Sine Crine Caput
02. Não Fale Com Paredes
03. Espêlho
04. Lem - Ed - Êcalg
05. Ôlho por Ôlho, Dente por Dente
06. Metrô Mental
07. Teclados
08. Salve-se Quem Puder
09. Animália
10. Curtíssima (bônus)
11. Ferrugem e Fuligem (bônus)

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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Alceu Valença & Geraldo Azevedo


Alceu Valença, Geraldo Azevedo e a psicodelia do disco Quadrafônico
De como Rogério Duprat foi parar no disco de estreia da dupla pernambucana que revelou grandes compositores da música brasileira


Fiquei em dúvida se começava a contar essa história pela parte em que os arranjos do disco “Alceu Valença & Geraldo Azevedo” (1972) seriam inicialmente feitos por Hermeto Pascoal mas foram parar nas mãos de Rogério Duprat, um dos criadores do Tropicalismo. Ou que nas gravações foi utilizado o sistema Quadrafônico, uma novidade à época. Ou também que o orçamento da produção era tão pequeno que Alceu e Geraldo foram mandados pela gravadora Copacabana a São Paulo gravar e se hospedaram no apartamento de Cesare Bienvenuti, produtor do disco. Ou ainda que as poucas horas de gravação destinadas ao LP aconteciam de madrugada, quando o estúdio estava desocupado.

Seriam formas interessantes se pensarmos nas curiosidades por trás de uma produção, mas elas não dariam a real dimensão deste clássico ainda hoje desconhecido do grande público que foi a inspirada estreia da dupla no disco “Alceu Valença & Geraldo Azevedo”.

Está contida nesta pequena joia que tem apenas 34:02 minutos de duração a gênese do frutífero trabalho como grandes compositores que Alceu e Geraldo desenvolviam individualmente já naquele começo de anos 70. Fosse isto pouco, considere que não se trata apenas de uma apresentação de dois desconhecidos ao mercado fonográfico mas a convergência destes juntamente com Rogério Duprat que resultou num disco clássico da nossa música.

Um clássico pode ser definido como uma obra que atravessa o tempo com suas características e qualidades artísticas intactas e é neste quesito que o “Alceu Valença & Geraldo Azevedo” se insere.

Rápida digressão: no início dos anos 70, a banda inglesa Pink Floyd andava empolgada com um novo sistema chamado Quadrifônico ou Estéreo 4.0, correspondente ao atual Surround, e gravou três discos neste formato. O Quadrifônico usava quatro canais de captação (o padrão então utilizado era dois) dispostos em diferentes pontos do estúdio capturando diversas tonalidades do som. A reprodução destes LPs, porém, exigia aparelho de som compatível, ou seja: com quatro caixas de autofalantes distribuídas nos ambiente o que dava ao ouvinte a sensação de se estar dentro do estúdio junto com a banda. O formato não vingou dada a indefinição do mercado quanto ao padrão a ser utilizado comercialmente e o valor elevado dos aparelhos para reprodução.

Deriva daí a confusão feita com o título do álbum que, ao contrário do que se afirma, não se chama ‘Quadrafônico’ pois esta denominação apenas identifica a tecnologia utilizada em oposição ao padrão Estéreo.


Alguns discos foram concebidos para serem ouvidos do começo ao fim, na ordem em que foram gravados, como o “The Dark Side Of The Moon” (1973), do Pink Floyd  -  um dos três em que a banda utilizou a tecnologia quadrifônica na gravação - , e isto é essencial para que a obra seja compreendida em toda a sua complexidade dado que a divisão entre as faixas não obedece à lógica padrão de um disco comum de ‘faixas soltas’. (Parece, inclusive, que há uma lei da Corte Marcial que condena os subversivos desta ordem a serem açoitados em praça pública tamanho é o sacrilégio cometido)

Este é o caso de “Alceu Valença & Geraldo Azevedo” que foi pensado para ser ouvido do começo ao fim e assim se possa ‘tocar’ as texturas, efeitos e cores que cruzam a fronteira da música e o aprumam rumo às artes visuais.

O regionalismo da dupla está aí mas não é o determinante. Tem ciranda, coco, viola caipira, rock mas é a psicodelia quem dá a liga. A conversa entre músicos e técnicos durante as seções de gravação no estúdio também estão presentes no disco, outra novidade para aumentar no ouvinte a ilusão de imersão no som.

Destaco aqui como um dos pontos altos deste trabalho a beleza na interpretação de “Talismã”. É coisa fina F.C.

A importância deste álbum quadrifônico é tamanha que o cultuado e raríssimo “Paêbirú”, disco psicodélico de Zé Ramalho e Lula Côrtes e que se tornou o vinil brasileiro mais caro chegando a custar R$ 4.000, só viria a ser lançado em 1975 e nele Alceu também deu sua contribuição.
Registre-se ainda que quando foi lançado “Alceu Valença & Geraldo Azevedo” o auge do rock psicodélico no mundo tinha ficado para trás perdido no éter da década de 60 e talvez por isto, suponho, o álbum não teve o devido destaque.

Esqueça os clássicos de Alceu e Geraldo que vieram à sua cabeça enquanto você lia este artigo. As músicas produzidas são uma terceira coisa para além da obra individual destes dois gigantes.

É com “Horrível”, a derradeira faixa do brilhante álbum “Alceu Valença & Geraldo Azevedo”, que o Risco no Disco convida você a fazer mais uma viagem pelo universo da música brasileira.

Texto | Risco no Disco

1972 | QUADRAFÔNICO

01. Me dá um beijo (Alceu Valença)
02. Virgem Virginia (Alceu Valença, Geraldo Azevedo)
03. Mister mistério (Geraldo Azevedo)
04. Novena (Geraldo Azevedo, Marcus Vinicius)
05. Cordão do Rio Preto (Alceu Valença)
06. Planetário (Alceu Valença)
07. Seis horas (Alceu Valença)
08. Erosão (Alceu Valença)
09. 78 rotações (Alceu Valença, Geraldo Azevedo)
10. Talismã (Alceu Valença, Geraldo Azevedo)
11. Ciranda de Mãe Nina (Alceu Valença)
12. Horrível (Alceu Valença)

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