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quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Leno


“Vida e Obra de Johnny McCartney” é considerado o CD mais importante da carreira solo de Leno, e foi gravado em fitas, entre novembro de 1970 e janeiro de 1971. Foi um momento em que ele deixa de lado, a questão das baladas tão presentes na Jovem Guarda, e mostra-se como um artista independente, vanguardista, crítico, rebelde, um ser politizado. Nessa época, ele fazia sucesso com a balada romântica “Festa de 15 anos” e resolveu dar uma guinada. “Eu sempre fui roqueiro, mas sempre estourava com músicas lentas. Eu queria mostrar o meu lado mais rock’n’roll”, revela. Tendo sido vetada pela Ditadura Militar em 1971, a obra que teve os Beatles, mais precisamente a dupla Lennon & McCartney, como inspiração para o compositor, ficou perdida durante 25 anos! O projeto criado em parceria com Raul Seixas reaparece em 1995, para a grande surpresa de Leno, que dava as fitas de seu inédito “Vida e Obra de Johnny McCartney” por perdidas! Acontece que elas são descobertas por acaso nos arquivos da Sony Music! Leno, então, decide remasterizar a gravação e editá-la em CD, criando seu próprio selo, o Natal Records, e lança sua obra composta em parceria com Raulzito.

Leno passou o ano de 1979 morando em Los Angeles, nos Estados Unidos, mas quase não compunha, pois estava ligado mais em cantar e tocar e quando voltou a residir em Natal, começou a se dedicar a compor e realizar shows. Guardava para si a lembrança de Raul Seixas, um cara simples que gostava de música. “Gosto muito da lembrança dele em mim, apesar das distâncias”. Essas lembranças ficam mais evidenciadas e tomam conta da vida de Leno quando este apresenta ao público o relançamento do disco “Vida e Obra de Johnny McCartney”, álbum considerado pela crítica especializada internacional como um dos melhores do rock. Foi o terceiro disco de sua carreira solo e teria sido gravado em 1970, porém a gravadora CBS vetou o projeto por achar que ele não era comercial. “Tinha umas músicas censuradas, como ‘Sr. Imposto de Renda’ e ‘Sentado no Arco-íris’. Segundo Leno, este disco antecipou muita coisa que viria a acontecer apenas nos anos 80 em termos musicais, além de ter influenciado a carreira de Raul Seixas.

Das 13 músicas do disco, seis são em parceria com o baiano. Leno comenta que “talvez a partir daí Raul tenha criado a vontade de ser cantor, pois ele não era muito a fim. Foi um laboratório para ele”.

O verdadeiro Rock já se faz presente logo na primeira faixa, “Johnny McCartney”, que é uma sátira à busca da fama tão em voga hoje em dia: “Ainda hei de ser famoso um dia / Meu nome nos jornais você vai ler / Vou ganhar mais de um milhão / Comprar o meu carrão cantando na TV / Vai pagar pra me ver no cinema / Do que me fez, irá se arrepender / Daqui pra frente sou galã lhe ofuscando / Com meu terno de lamê / Johnny McCartney vou ser).

É uma letra bem atual! Por tudo isso, “Vida e Obra de Johnny MacCartney” é considerado um disco seminal para o rock brasileiro, pós-Jovem Guarda, e deve constar em qualquer discoteca básica do estilo, onde guitarras, bateria e baixo ganham mais expressão, pela primeira vez, no rock brasileiro.

Por | Lúcia M. Zanetti

1995 | VIDA E OBRA DE JOHNNY McCARTNEY (1971)

1. Johnny McCartney
2. Por Que Não?
3. Lady Baby
4. Sentado no Arco-íris
5. Pobre do Rei
6. Peguei uma Apollo
7. Sr. Imposto de Renda
8. Não Há Lei em Grilo City
9. Convite para Ângela
10. Deixo o Tempo Me Levar
11. Contatos Urbanos
12. Bis
13. Johnny McCartney

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