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quinta-feira, 7 de maio de 2020

Boca Livre


No final dos anos 70, Boca Livre era o grupo que cantava com Edu Lobo nos circuitos universitários, com azeitadas harmonias de quatro vozes. Depois de peregrinar por gravadoras, em 1979, decidiu gravar um LP independente, uma tendência na época: embora vendesse pouco, via-se mais como um ato de bravura. Até então o Boca Livre limitava-se a participações especiais num disco de Vital Lima (Pastores da Noite, em 1978), e no Clube da Esquina 2 (1979). “Todas as gravadoras rejeitaram o grupo, então a nossa opção foi ser independente, e foi um sucesso quase instantâneo. Algo que a gente não previu, de repente estava tocando no rádio. A gente apareceu no Fantástico cantando Ponta de Areia (Milton Nascimento/Fernando Brant), num domingo. Na segunda, o pessoal das lojas começou a pedir disco. Fomos os primeiros a bisar o Fantástico, que repetiu Ponta de Areia no domingo seguinte”, conta Zé Renato, que, paralelo à banda, mantém uma sólida carreira solo.

O Boca Livre não foi, claro, pioneiro na produção de disco independente na música brasileira moderna. Satwa, de Lailson e Lula Côrtes, lançado às próprias custas, é de 1973, dois anos antes de Feito em Casa, de Antonio Adolfo, sempre citado como sendo o primeiro. Ambos venderam pouco, esbarrando no dilema da produção independente: a distribuição. A procura pelo Boca Livre foi tão grande que, apesar da dificuldade de distribuir o LP, o grupo conseguiu vender cem mil cópias do álbum: “Era uma loucura, porque a gente mesmo botava os discos nas capas e ia entregar. Depois conseguimos que a Eldorado distribuísse”.

O quarteto tornou-se notícia não apenas pela execução massiva de duas faixas – Quem Tem a Viola (Zé Renato/Xico Chaves/Cláudio Nucci/Juca Filho) e Toada (Na Direção do Dia) (Zé Renato/Cláudio Nucci/Juca Filho)–, mas também por tornar a independência de gravadoras economicamente viável. A formação do Boca Livre atual só tem uma mudança para a original. Lourenço Baeta em lugar de Cláudio Nucci, que partiu para carreira solo ainda nos anos 80.

Quando formaram o grupo, Nucci vinha de outra junção, chamada Semente, com Maurício Maestro e David Tygel, do Momento Quatro (do qual faziam parte, ainda, Zé Rodrix e Ricardo Villas, que se tornou preso político e entrou na lista dos que foram trocados pelo embaixador americano em 1969). Zé Renato vinha do Cantares, todos muitos jovens, continuando uma tradição de grupos vocais que remontavam ao Trio Nagô, Trio de Ouro, Garotos da Lua (que teve João Gilberto como integrante), Anjos do Inferno e Quatro Ases e Um Curinga. Todos se esmeravam nas harmonias vocais, realçando a canção.

Texto | José Teles

1979 | BOCA LIVRE

01. Quem tem a viola (Cecilia)
02. Toada (Na direção do dia)
03. Mistérios
04. Boi
05. Diana
06. Ponta de areia
07. Feito mistério
08. Pedra da Lua
09. Barcarola do São Francisco
10. Fazenda
11. Minha terra (Tema da peça teatral "Papa Highirte)

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